segunda-feira, 30 de agosto de 2010

Caríssimos!
Tenho a pergunta de mais um Anónimo para responder, mas antes devo dar conta de uma coisa muito, muito mais importante. Chego até vós com algo que me transtorna, que me massacra e escandaliza o espírito - o programa "À Procura de um Sonho".
Amigos, atingimos um novo fundo, um novo patamar de mediocridade em Portugal. Somos conhecidos por nos acharmos muito in quando na verdade  sermos intolerantes, impacientes, ingratos, insensatos, inconsequentes, invejosos, ingnorantes, ingoístas, inalfabetos, inconomicamente instáveis, infim... o que eu não sabia é que, agora, somos um povo in-bonito. É verdade, senhoras e senhores, o visionamento do programa suprareferido deixa, em essência, aprender uma e uma só coisa: os jovens supostamente mais bonitos do nossos país são não somente todos os ins anteriormente enumerados - que lhes seriam perdoáveis se houvessem ao menos o único atributo básico que lhes é exigido - não! são, na generalidade, feios. E isso choca-me. E isso abala-me. E isso gela-me.

E é gelado de exasperação e desconsolo o que vos aconselho hoje. Experimentem, com ênfase no mentem (não é de mentir, é mesmo de menta, fica óptimo com menta). Não? Ok, então agora a sério. (pigarro)

E é gelado de exasperação e desconsolo (por tudo quanto antes foi escrito) que me dirijo ao nosso(a) Anónimo(a) de hoje (que é de ontem, mas a minha vida não é só isto!). Eis a pergunta



Agora, eu sei que somos mauzinhos com os Anónimos, neste blog. Achincalhamo-los, maltratamo-los, gozamo-los... quem sabe até se eles gostam de tanto vitupério. Nós gostamos.
A questão é que esta pergunta poderia ser inocente e é assim que a trataremos.
Portanto, sem gozos nem retóricas, sim, o Miguel e o Gramaça namoram. Não um com o outro, como será evidente à qualquer pessoa que não tenha 2% da sua massa corporal em massa castanha em vez de cinzenta e branca no interior do crânio. Genericamente. Falo por mim, não há presentemente nenhuma donzela que me haja concedido namoro. Quanto ao confrade João Gramaça, considero que a sua resposta se encontra clara aqui. Caso haja, entretanto, algum desenvolvimento, estou certo de que o confrade terá todo o gosto em esclarecê-lo via [UPDATE]. Satisfeito(a)?

Finalizando, gostaria de vos apresentar o excerto de uma conversa com uma nova amiga, em que nome revelado poderá ou não ser real.

Rita diz:
sua nao dele?!

 miguel de miguel... http://aconfrariadacerveja.blogspot.com/ diz:
x)
esquece, isto só funciona oralmente
ok, isto podia ter saído melhor
isso que estás a pensar... não, não funciona só oralmente

Rita diz:
looool

miguel de miguel... http://aconfrariadacerveja.blogspot.com/ diz:
tb funciona manualmente
ou vaginalmente

Rita diz:
que era o que querias ter dito com a frase?


miguel de miguel... http://aconfrariadacerveja.blogspot.com/ diz:
Às vezes até funciona só com a mente

Rita diz:
isso escuso de saber oh...

miguel de miguel... http://aconfrariadacerveja.blogspot.com/ diz:
xD a sério, esta vai tanto pro blog

E cá está.
Sem mais de momento, despeço-me na esperança de um mundo melhor.
Abraços e lambidelas.

Miguel de Miguel, Escrivão e Grão Mestre d'A Confraria da Cerveja

sexta-feira, 27 de agosto de 2010

"Isto é um grupo de angariação para orgias?"

Bravo, caro leitor. Mais uma vez, o anonimato eleva-se das sombras em que esconde o seu talento, brindando-nos com uma questão de uma pertinência rara nos dias que correm. De facto, é impressionante a lucidez dos nossos leitores, que poderiamos colocar em causa dado darem-se ao trabalho de visitar o blog, mas que teima em ser demonstrada na forma de perguntas recheadas de intencionalidade e subentendidos.

Daí que vá responder à sua dúvida, excelso anónimo, tão merecível como qualquer outra - até mais, dado evidenciar uma sensibilidade que me extasiou. Aliás, neste momento ainda estou ligeiramente boquiaberto, o que também poderá ser da terrível dor de dentes que me tolda o raciocínio há três dias (não caro confrade Miguel de Miguel, infelizmente não tenho a Morfina, apenas paracetamol e nicotina, fracos enganos para o corpo e para a mente). Contudo, antes de lhe responder, quero fazer um pouco de serviço público (como dizia o outro...) e vou partilhar convosco o que descobri há 5 minutos atrás quando fui pesquisar a entrada "orgia" no dicionário. Não em qualquer um. Num dicionário da Porto Editora, o que é prestígio. Pois nisto dos dicionários não se brinca, ou é bom ou não vale a pena. Ponderando bem as coisas, comprar um dicionário não é bem a mesma coisa que comprar um kg de bifes de perú, é necessária qualidade (o que não implica que os bifes não tenham de a ter... enfim, talvez não tenha sido a melhor comparação, vamos antes usar uma lata de atum). Portanto, o que lá dizia era o seguinte:

Orgia
1.
festa desregrada, em que se come e bebe em excesso e/ou onde há promiscuidade sexual; bacanal

2.
figurado devassidão, licenciosidade

3.
figurado excesso, desregramento

4.
figurado profusão, abundância

5.
figurado desordem, anarquia

De apontar também que este é um nome feminino, e que tem a sua origem no grego "órgia", que significava "festa de Baco". Ora, como se costuma dizer, esta definição dá pano para mangas, e também para umas calças e uma fronha para a almofada...Vamos por pontos. Em primeiro lugar, obviamente que gostaríamos de organizar festas onde inúmeras pessoas diferentes, com ideias, opiniões e palavras próprias, se juntem, unidas sob um denominador comum: o amor pel'A Cerveja. O que, per se, é algo diferente duma festa desregrada onde se come e bebe em excesso e onde existe promiscuidade sexual. Nestes requisitos, o único que talvez atinjamos é o de beber em excesso, e mesmo assim inconscientemente, face ao facto de haver poucas coisas que deslizem tão bem pela nossa garganta como a pura corrente de espuma branca e de ouro espirituoso d'A Cerveja, tão bem que por vezes nem nos damos conta de que já vamos na terceira ou quarta Litrosa (Ámen !). E, nessa altura, só nesse momento, talvez nos deparemos com o 4º significado, este figurado: o da abundância, profusão. Sendo este o mais simpático de todos, pelo menos creio eu. Em segundo lugar, prometemos desde já que, nas nossas reuniões não haverá comida em excesso, até porque actualmente os restaurantes também andam em crise, além do facto de que temos de ter cuidado com a diabetes mellitus e com a aterosclerose. Em terceiro lugar, é interessante constatar que a nossa Confraria seja conotada com promiscuidade sexual. Não que não fosse esse o nosso desejo (perdoe-me a ousadia de falar por si, caro confrade), mas infelizmente tal não é a nossa sorte, nem sequer o nosso objectivo. Quanto ao sinónimo "bacanal", não sei se será realmente necessária uma angariação para levar a cabo tão chã empreitada... Se bem que este substantivo tem sido injustiçado, sucessivamente vilipendiado e associado a práticas indecorosas, o que certamente tem deixado o deus Baco às voltas no Olimpo, numa inquietação apenas acalmada pelas visitas domiciliárias de um par de ninfas contratadas.
Por fim, perclaro anónimo, vou-lhe responder. Não, isto não é para fazer uma angariação para orgias. O nosso propósito é a formação de um grupo de pessoas, sob o estandarte d'A Litrosa, que se juntem num clima de amizade, sentados perante um exército de garrafas, umas vazias para nosso deleite, outras ainda repletas duma alma que se eleva, cheia de força. E renego em absoluto a ideia de fazermos angariação do que quer que seja para o que quer que seja. A única angariação que faremos é a de palavras, pessoas, pensamentos. E essas constituem o verdadeiro motor que levará a Confraria da Cerveja no sentido dum futuro que se pretende sublime.
E recheado com o prazer orgiástico de refrescar o paladar contigo, oh amada Litrosa.

Saudações Cervejeiras,
João Gramaça, Grão Mestre e Presidente da Mesa d'A Confraria da Cerveja

[UPDATE]
Falou e disse, o Confrade, com a boca tão cheia de eloquência quanto cheia estará a cabeça do Anónimo de, enfim, coisa nenhuma. Quanto à dor de dentes, lamento-a como se de minha se tratasse, grande amigo, e minha quase que é, quanto quase incomodam os Anónimos do mundo. Arejemo-los (aos dentes, não aos Anónimos, esses cheiram mal, atrevo-me) em gargalhadas à sua custa (sua, deles, dos Anónimos do mundo, não sua, confrade, nem dos dentes, A Litrosa os banhe sempre na sua protecção!).
Permita-me que, do maravilhoso tecido de verbo com que honrou o nosso caro Anónimo, tenha extraído a hilariante cena de um qualquer Anónimo de capa preta e um saco de papel enfiado pela montra abaixo e tacteando atarantado o vazio enquanto era vigorosamente e repetidamente agredido na cabeça pelo referido kg de bifes de perú - perdoem-me o sadismo e a clonixina, mas desmanchei-me a rir.

Sem mais de importante a acrescentar, e para remissão da maldade, deixo alguns sítios cibernáuticos que, confesso, não tive tempo de explorar mas que considero útil em tão empolgante jornada.
LUTE POR AQUILO EM ACREDITA, ANÓNIMO! EM FRENTE!

Aqui, aqui ou aqui

Espero ter sido útil.
(cheio de dores pré-) Cordialmente,
Miguel de Miguel, Grão-Mestre e Escrivão d'A Confraria da Cerveja

quinta-feira, 26 de agosto de 2010

Nos Braços de Morfina

Caros amigos, chego até vós com uma história de amor.
Acordei com ela, num dia quente de agosto. Acariciava-me o corpo com milhões de pequeninas mãos, pequeninos braços que conciliam a dor que sabia dever estar a sentir. Abraçou-se a cada nervo de mim e quem implorou para me apaixonar por ela fui eu - e ainda dizem que se conquista um homem pelo estômago. Não, é mesmo por via parentérica, com a fome posso eu bem, minha gente... mas a Morfina... ai a Morfina, minha gente, é o menos injusto substituto que eu conheço para a Cerveja.
É sentir o seu toque inebriante, a indolência dos lábios espraiando-se na despreocupação de um sorriso. Ai, como descrever o amor?


Palavras para quê?

Miguel de Miguel

segunda-feira, 23 de agosto de 2010

Ensaio sobre a vida

A noite beija o dia numa explosão de sensualidade, apenas possível graças ao véu molhado que cobre a indefinição em que ambos se abraçam. O mundo está parado, num momento raro de contemplação. Parado numa profunda inspiração antes dum inevitável mergulho, que se antevê desesperado e sem retorno.
Permitam-me a veleidade de pousar o olhar numa figura indistinta ao longe... Aproximemo-nos, pé ante pé, desta sombra prostrada pelo cansaço da realidade, num esforço retórico para se manter acordado. O céu veste-se num tom de cinzento carregado, inusitada escolha para um dia perdido nos meados de Agosto, altura curiosa, dado que nunca se percebe muito bem em que ritmo louco anda o tempo. Nunca se percebe muito bem se hoje é hoje ou se já é amanhã. Nunca se percebe muito bem qual o dia da semana em que estamos - mas também, para quê? Não somos escravos das datas, das horas, dos minutos, durante os longos meses de exílio, enclausurados, oprimidos pelas obrigações que nos extraem quaisquer réstias de inspiração, nos chupam até ao tutano com a raiva de nos submeter à sua vontade? Afinal o que somos para lá daquilo que fazemos? Ao fim ao cabo, só podemos conhecer alguém através das suas acções, no sentido lato da palavra - o que diz, o que faz, o que escreve... Só a partir daí podemos deduzir o que alguém pensa, o que sente, o que sufoca dentro de si...
Daí que dedique a minha atenção a este ser, isolado na varanda do seu desassossego, algures numa outra dimensão ou então apenas num recanto qualquer do nosso pequeno vasto mundo. Num óbvio sinal de delírio, ou simplesmente de egocentrismo, vou arrogantemente mascarar-me de omnisciente e tentar desvendar o que ele (pois é dum ele que se trata) resguarda dentro de si do vento frio e cortante que agora se levanta e do sono que se apodera dele, paulatinamente, obedecendo ao compasso das gotas de água que, numa cadência repetitiva, o embalam num entorpecimento assaz estranho e agradável.
Ele é um vulto dum passado recente, ele é alguém que se perde nos pensamentos que o afundam num pânico sem precedentes. Ele é um pobre desgarrado, ele é alguém que se deixa confundir pelos labirínticos pântanos onde é obrigado a tentar encontrar um caminho, um trilho para a promessa que se esconde na bruma que domina o seu horizonte. O que é ele? O que está aqui a fazer? Nem ele sabe. Duvido que alguém saiba.
Olho pelos olhos dele, partilho a sua visão deturpada pelo progressivo cerrar das pálpebras. Vejo as gotas de água num equilíbrio de ballet sobre as folhas dum limoeiro, retorcido pelas intempéries, desfigurado pelos nós da madeira velha e ainda assim resistente. Vejo um regato a precipitar-se, numa pressa eterna, por entre os seixos que os anos tornaram lisos e polidos, obras de joalharia engendradas pelo líquido cristalino que com ele traz um rumor da pureza das nascentes que brotam dum seio de granito. Vejo montes imponentes, sob um capuz de anciãs árvores numa paz inquebrável, enquanto farrapos de névoa tacteante se retiram para o refúgio da atmosfera. Vejo o balir das ovelhas que pastam, inocentes e desdenhosas do universo de carros, máquinas, fumo - só os tufos de erva viçosa e tenra lhes interessam, descobertos por entre as colunas de pedra que sustentam vinhas plantadas pelos avós dos avós dos donos, colunas que se erguem como memoriais da simbiose entre a Natureza e o Homem. Vejo uma rara alegria, uma alegria que aquece uma alma enregelada pelos cuidados, pelas preocupações, pelo cansaço de não viver, uma alegria que não via há muito tempo, há demasiado tempo. Vejo a cristalina e quase infantil alegria de sarar a fadiga com duas inspirações profundas dum ar com um indelével sabor a pinheiros e eucaliptos, de lavar os olhos com um instante de uma natural sublimação, de uma verdura extasiante, de um orgasmo contemplativo.
Vejo o sorriso que nasce nos teus olhos. Vejo a esperança, no coração dele, de poder ver, um dia, esse sorriso ser enriquecido pelo doce curvar dos teus lábios. Vejo o anelo que sente, mitigado num refúgio que sabe que terá de terminar - não há curas definitivas, apenas um adiar do inadiável.


"What is this life if, full of care,
We have no time to stand and stare?"


Uma vida assim não é nada, é um vazio, um vácuo que nos engole e nos expurga de todo o desejo de felicidade. Esta é a minha resposta. Peço perdão pelo atrevimento de ir mais além do que foi William Henry Davies (para os que não conhecem, um Alberto Caeiro galês, e o autor desta questão num dos seus poemas, relembrada por um dos nossos leitores), que considerava que a vida seria pobre se não tivéssemos o tempo para olhar para o mundo em nosso redor, para as maravilhas que temos a sorte de poder apreciar. Contudo, qual o sentido de viver uma vida pobre, se apenas temos direito a uma? Uma vida pobre é um eufemismo, é o mesmo que não ter nenhuma...

sexta-feira, 20 de agosto de 2010

O povo que tocou a Lua e depois adormeceu.

Estava-se num tempo agora esquecido, que fica sempre do antesequente só quanto fizerem subsequentemente lembrar os avós e as perguntas espertas.
Recorde-se, então, a fome, o frio e a escuridão que povoavam o rigor dos invernos de Nwangombo, as noites em que todos se despediam e recolhiam ao cassado abrigo de palha e lama das suas casas sem saber quantos sairiam na manhã seguinte. Aninhavam-se os mais pequenos entre o calor das ovelhas que eram, por aquelas paragens, os únicos animais que conseguiam resistir ao corte do frio. Especificamente aquelas, com a sua misteriosa lã, branca cor da neve, de dia, de um preto brilhante de céu estrelado, à noite. A quem possa perguntar, durante a alvorada e o lusco-fusco tinham a cor de amêndoa ralada e cheiravam consistentemente a ovelhas, que normais tinham que ser nalguma coisa. Se durante o resto do ano passavam a noite no estábulo da aldeia, quando fazia frio as gentes atafulhavam-nas dentro de casa, para darem calor. A Luna adorava-as, dizia que eram as mais bonitas do mundo, mesmo sem nunca ter saído da sua aldeia. Não precisava, tinham-na mantido viva ao longo de 6 invernos e gostava delas tanto como dos seus próprios pais. E foi por isso que, num determinado dia (à noite) de dezembro, enquanto o frio mordia ainda com os molares, Luna saiu de mansinho da sua pequena cabana, nos braços uma ovelha pequenina. Esta pequenina rebeldia, justifica-a o facto de, nesse ano, a sua família ter conseguido uma criação anormalmente grande de ovelhas da Lua (era assim que se chamavam, ninguém sabia muito bem porquê). Ora, estando a cabana demasiado cheia, acordou com o balido aflito de uma ovelha bebé que deu por si apertada contra um canto, sem conseguir respirar, perdoem-me a apoquentação.
Ao que interessa, ao sair e pôr os pés descalços nas ervas quebradiças da primeira geada, a Luna deixou de sentir nos braços o suave peso da pequenina ovelha, sentiu-a debater-se e depois flutuar, misturando a sua lã preta no preto frio da noite. Era tão bonito... e, do alto dos seus quase 7 anos, Luna pensou. Percebeu que as todas as superstições têm uma história, que por vezes esquece-se a história mas não a superstição, como a que têm os aldeões de levar todas as noites as ovelhas no estábulo antes de anoitecer. E achou que tudo era ligado, se ao menos houvesse uma criança com paciência de adulto ou um adulto com espírito de criança; poderemos imaginar nós agora como seria previsível que a neve atraísse a neve e a noite brilhante de estrelas o brilhante negro da lã de uma ovelha da Lua, ou mesmo como trabalhou a providência ao colocar nas mãos de uma menina pequena chamada Luna uma pequena ovelha da Lua, ou mesmo o que provocariam as duas ainda hoje. Mas o seu a seu tempo, se no tempo esquecido de que falamos não se sabia do de hoje, também não se saberá a meio de uma história o seu fim.
Admirava então a pequena a magia da ovelhinha e tudo se colocou no lugar ideal. O frio, a ovelha, a Lua, a noite, tudo se conspirou para que um espírito de criança colasse tudo com uma pitada de magia.
O sol brilha muito e por isso é muito quente, mas a Lua também brilha. Até aposto que é suficientemente quente para que, se trouxéssemos cá para baixo um bocadinho, iluminar e aquecer toda a aldeia. Podíamos ir lá buscá-la de noite, quando as ovelhas conseguem flutuar pelo ar. Levávamos carroças e trazíamos uns bocadinhos cá para baixo.
Falou assim na manhã seguinte às gentes da aldeia e ninguém duvidou dela, que a magia das crianças é uma coisa muito séria e, fosse como fosse, o frio convencia a tentar. Em três dias, construíram-se três carroças feitas integralmente de ébano, podia ser que ajudasse as ovelhas, a noite atrai a noite. E na do quarto dia, designaram-se três carroceiros, três homens com picaretas e três mulheres com três sacos e três sandes cada uma, amarraram-se a cada carroça três grandes ovelhas da Lua, e o mundo viu por momentos três carroças pretas com três sacos pendurados e puxadas por três ovelhas pretas cada uma contrastar-se contra o brilho da Lua, enquanto que os carroceiros riam em Oh! Oh! Oh!’s de contentamento. Se a este conto acrescentou alguém um ponto, não será da nossa conta, quem tiver ponta de certeza jure que o pai natal não existe e quem tiver olho vivo conte o que de extraordinário por lá aconteceu, que a Lua fica longe e de cá de baixo não se distingue senão a sua redondez. O certo é que, de manhã, chegaram cá abaixo três vezes três sacos de Lua e quem lá os tinha ido buscar. Vinham ainda quentes, brilhantes não, mas toda a gente sabe que a Lua brilha é de noite. E é facto que, chegada a noite, juntaram-se num monte a meio da aldeia os pedaços de Lua e estes iluminaram e aqueceram todo esse Inverno e os dois que o seguiram, perdendo depois a propriedade.
 Mais que isto, não se sabe. O que se sabe é que, de três em três anos, mais coisa, menos coisa, lá por altura do Natal, acontece um fenómeno chamado “El Niño” que provoca temperaturas mais altas e outras alterações no clima, mas isso é coisa de gente entendida. Mais uma vez, quem souber que jure mas, cá entre nós, eu acho que a Luna não se ia importar muito que a tenham confundido com um menino, não acham?

domingo, 15 de agosto de 2010

"Gramaça, tens namorada? Esta dúvida persegue-me desde o 1º dia de aulas... (ok, não foi bem desde o 1º!)"

Inefável Anónima (ou assim o espero...) aqui está uma questão que também a mim me atribula as escassas horas de sono que consigo desfrutar nas sempre insones noites em que me revolto contra a prisão dos meus lençóis. Contudo, é absolutamente fundamental dissecar a fundo esta interpelação que nos caiu em mãos via Formspring.
Em primeiro lugar, o que é uma namorada? Esta é uma palavra utilizada de modo demasiado leviano hoje em dia, pois, na minha humilde opinião (que vale o que vale) o acto de namorar implica a existência de amor, um sentimento para lá da compreensão meramente racional do quotidiano. Implica uma união de duas almas numa só, uma sintonia perfeita em que os passos estão coordenados, em que as palavras são dispensadas, substituídas por olhares repletos de significado. Implica a pura revolta perante o mundo, confrontando-o de mãos dadas, enquanto tudo em nosso redor se desvanece, se reduz a uma insignificância incapaz de macular um lençol de branco linho onde escrevemos em conjunto os versos duma vida onde se perde a noção de onde um começa e o outro acaba. Implica sentir uma felicidade sublime na simplicidade de nos sentarmos nas areias duma praia deserta e desfrutarmos apenas da companhia um do outro. Isto é amor, isto é ter uma namorada.

Ora, em boa verdade, ao olhar em retrospectiva, eu nunca senti o acima descrito. Logo, nunca amei. E não tenho particular vergonha em admiti-lo. Obviamente que já vi as sombras da minha existência serem dissipadas por radiosos fachos de luz, que rompem a escuridão e me mergulham num delírio momentâneo - obviamente que já estive apaixonado. E para além disso, não nos esqueçamos que, enquanto seres humanos, temos determinadas necessidades fisiológicas, perfeitamente normais mas ocas de sentimento, às quais damos uma resposta momentânea e que posteriormente esquecemos, seguindo em frente com um ar desassombrado. Nada de mais.

Amantes, tenho duas. A Litrosa, que ocupa e ocupará sempre um recanto do meu espírito, no qual a acarinho de forma terna. E a Literatura, perene paixão que me comove, que nunca me abandonou e que acredito, do alto da minha presunção, me irá acompanhar até ao meu leito de morte.

Agora, cara anónima, não se deixe perseguir por dúvidas - se bem que seria péssimo se fosse antes perseguida por uma matilha de cães ou (ainda pior) de credores com ligações à Mafia. Afugente essas questões existenciais, e receba desde já uma resposta directa e sem rodeios : não, não tenho namorada. O interessante é que eu poderia ter dito logo isto, fazia um post com duas linhas e estava feito - o que sinceramente não tinha nem um quarto da piada.

Portanto, convido-a a continuar a visitar esta janela para o âmago da nossa Confraria, este último reduto de adoração pela Cerveja, simbolizada na sua mais divina forma - A Litrosa. E caso seja esta uma das suas paixões, deixo-lhe já aqui um conselho : una-se a esta mui nobre causa, que dá agora os primeiros passos na direcção dum futuro dourado e grande... E caso tenha a coragem (ou mesmo só a vontade) de se identificar, não se acanhe, pois é-lhe garantido um sigilo total. E já agora, até porque também tenho direito a algumas dúvidas existenciais (e acreditem que são mesmo muitas, mais do que o número com que seria saudável debater-me), fica a interrogação: se não foi desde o 1º dia de aulas, quando é que terá surgido essa questão? Note-se que para mim esta questão tem um interesse puramente académico, na medida em que poderei tentar recordar que figuras tristes fiz na altura.

Saudações Cervejeiras,
João Gramaça, Presidente da Mesa e Grão Mestre d'A Confraria da Cerveja

sexta-feira, 13 de agosto de 2010

"Epá eu até ia perguntar se me podia juntar a esta cambada de bêbados, mas não sei se tenho algum talento artístico que se preze. Por outro lado bebo 3 ou 4 litrosas à vontade (o que alguns poderão considerar uma arte xD). Abraços e boas férias ;) Covas "

Grande Covas, em primeiro lugar, Abençoada seja A Litrosa!, gostaríamos de te saudar e assegurar-te de que o teu desejo foi ouvido e será discutido n'A Confraria. Caso desejes e o mereças pelo esforço e dedicação, serás Confrade!

Em segundo lugar é, de facto, uma arte, a de Beber Litrosas. Repara, não é a capacidade de beber uma ou duas ou três sozinho, é a partilha, é o respeito pelo seu porte, a maneira como progride rapidamente na porção cónica e se debate na cilíndrica, é tocar-lhe como se a uma ninfa. É perceber que o volume que a caracteriza não pede uma força de explosão, sim um refinado sentido de cadência, paulatina o suficiente para que se possa saborear o seu etéreo conteúdo, contudo suficientemente forte para não deixar que lhe fuja a alma - que não há que ser confrade para se perceber a calamidade que é deixar morrer uma Cerveja.

Por fim, haverás um talento, caro Covas. Haverás algo que te defina, que te apaixone, que faça bater acelerado esse vital músculo que nos leva o espírito da Cerveja a cada célula de cada tecido. Haverás um talento, Covas, e haveremos de o desvendar.

Por agora, eu te proponho segundo afiliado d'A Confraria da Cerveja, caso o pretendas e o Presidente da Mesa o oficialize via [UPDATE].
Sê persistente e visita-nos. Liberta a tua mente e deixa-nos ouvir o que tens a dizer.

Faço oficial este texto.
Miguel de Miguel - Escrivão e Grão Mestre d'A Confraria da Cerveja

P.S. oficiosamente e menos pomposamente, continua a vir cá e continua a beber como gente grande. Boas férias x)
"NÃO PERCAM O PRÓXIMO EPISÓDIO PORQUE NÓS TAMBÉM NÃO!"


[UPDATE] Insigne, excelso e mui prezado Doutor Covas, enquanto colega admirei com extremo contentamento a tua vontade de te iniciares na nossa Confraria e no culto pel'A Litrosa, daí que obviamente te recebemos de braços abertos... E acredito, com cega confiança, que dentro de ti mora um qualquer talento, que espera ansiosamente pelo instante em que se poderá revelar ao mundo - caso contrário, só por si já tens pergaminhos na anciã e complexa arte de saborear o ouro líquido que confere uma renovada alegria às nossas vidas. Já enquanto Presidente da Mesa d'A Confraria da Cerveja, eu, João Gramaça, oficializo a tua afiliação à nossa Confraria. Tenho dito.

Saudações Cervejeiras

terça-feira, 10 de agosto de 2010

Suspiro duma Tarde de Verão

São precisamente 13 horas e 24 minutos. A janela do meu olhar embaciado olha para o verde seco, abafado dos montes pelos quais o meu espírito anelava há demasiado tempo, há séculos, os séculos que me mudaram lentamente, neste vertiginoso turbilhão de meses que parecem longos anos, prolongados no sofrimento de cair sucessivamente nas poças sujas e enlameadas que minam as calçadas duma sombria cidade. Pinto os meus sonhos acordados em tons de cinzento, utilizo as suas diversas graduações, exactas correspondências à melancolia crescente e ominosa que já não sei rejeitar, que já não tenho arte para esquecer.
Olho através da água que cai em pleno Agosto (água salgada, que cava leitos de ribeiros corporizados nas rugas precoces que rasgam a pele imberbe do meu rosto), dou significado e forma às sombras esborratadas que surgem perante mim, discirno o sublime do mundo em meu redor... A Natureza é demasiado perfeita para que exista um Deus... Até porque se ele existisse, era o maior sacana à face da Terra... E cá está, o meu pequeno devaneio absurdo e egocêntrico, o vómito das minhas entranhas sob a forma de letras infinitas e ocas, ridiculamente conjugadas numa especulação traçada no desespero duma manhã vaporosa, a cavalgar ainda na leveza do sopro espirituoso de vinho verde que me tolda a racionalidade deturpada.
Cerro as pálpebras da minha alma, adormeço no doce enlevo das horas sem futuro nem propósito, na ofegante respiração do peito apertado pelo calor obsceno, enquanto nos meus tímpanos ecoam incessantemente os decibéis do meu mp3, que debita a poesia triste e desiludida das músicas criadas por Matt Berninger, acordes sinónimos de tudo o que neste momento sinto ... Ergo os olhos para o nada, e traço no céu azul a infantil e ingénua esperança criada por um sorriso perdido, por um encontro fortuito, pela quimera que quero encontrar mas que não conheço, pela ilusão dum estranho e irreal olhar partilhado. Às vezes julgo que o mundo inteiro não é mais do que uma enorme floresta, cheia de caminhos traiçoeiros, de encruzilhadas, de recantos obscuros, de reencontros imprevistos. O desafio é escolher o trilho certo. E talvez, com um pouco de sorte, encontrarei novamente um laivo de felicidade, tropeçando na beleza da tua face, descoberta e perdida por entre fugidios relances. Talvez te vislumbre para lá da névoa que me intoxica, para lá das sombras perante mim. Talvez no final da estrada te encontre, do mesmo modo que te encontrei no início deste capítulo. Talvez por entre o cheiro do éter e os salpicos de sangue que me mancham a roupa oiça uma vez mais a tua voz. Talvez...

domingo, 8 de agosto de 2010

Anda um tolo com pernas que o estranham. Nas entranhas, a embriaguez de quem não sabe onde está, que tudo é relativo e, sem referências, aquilo que se pode calcular é que se esteja relativamente só neste mundo que roda, porque roda o mundo?, para que possamos andar para a frente e estar sempre no mesmo sítio, que é o fazem os tolos, este em particular acabou de parar. Onde estás?, Quem?, Quem quer que seja, Então não sou eu, que eu não sou senão o delírio de um tolo. Chora o tolo, que até esses têm direito a chorar quando percebem que estão sozinhos, a sorte é que não é preciso ser-se um entendido para se perceber isso mesmo que se esteja num rua cheia de barulhos e encontrões, sorte porque não teria ninguém que o entendesse e, fosse como fosse, um tolo nunca foi um entendido. Chora e persegue desesperadamente as sombras da rua, fosse ao menos uma sombra e nunca sentiria o abandono, morria logo que alguém apagasse a luz e pronto. Onde estás? Onde estou eu? Leva-me a casa, meu amor, que minha nunca foste mas nunca sequer apareceste para protestar.

Fala-me de mim. Fala-me de como sabe pelo meio de danças de rosas e diamantes que riem uma sinfonia mágica, esquece-te só de me contar que me rasgo nos picos e tremo ao toque frio e ouço tudo como gritos de demónios, que acaba um homem por sentir-se uma pessoa, se esquecer que não consegue. Ama-me e mente-me porque me amas. Se me amas, cega-me, amordaça-me e mergulha-me em vinho quente, sê como são os sonhos, mas sempre. E não deixes nunca de me iludir, droga-me continuamente com a tua voz de sopro ao ouvido e não respires até que eu suspire pela última vez. Aí, lembra-te de mim como me contaste e chora-me com vontade.

Miguel de Miguel - "Prerrogação de uma carta sem destino"

sábado, 7 de agosto de 2010


Boa pergunta.
Agora num registo mais sério, compreendemos que o point deste blog esteja algo indefinido para quem nos visita. Perguntam-se vocês - mas será que esta gente criou um blog só para aparvalhar?
Em grande parte, sim. E não só. A quem não nos conhece, pensa que nos conhece, quer conhecer ou desejaria nunca ter conhecido, diria que somos, além de amantes de Cerveja, amantes da cultura, da beleza das coisas, da inspiração, amadores da escrita e da oratória, da ciência e das mulheres.
Dar-me-á licença o confrade João Gramaça para que fale também por ele, quando nos classifico como socialmente inadaptados, sentimentalmente carentes, mentalmente descompensados e frequentemente incompreendidos.
Porque é que criámos este espaço? É simples. Queremos ver até que ponto estamos sós. Estando ou não, até que ponto seremos grandes. Porque é isso que todos queremos, não é? Só, muito pura e simplesmente, mais.

Prometemos começar a fazer posts com substância em breve. Mostrem-nos o vosso feedback

Avidamente,
Miguel de Miguel

[UPDATE]
vamos lá deixar de comentar e fazer perguntas como anónimos. gostamos de conhecer os nossos simpatizantes, identifiquem-se :)

sexta-feira, 6 de agosto de 2010

Abertas as Hostilidades

Caríssimos (e aparentemente inexistentes) leitores

Como já haveis de ter reparado, encontra-se à vossa esquerda um espaço dedicado às perguntas e/ou sugestões que possam surgir acerca do blog, dos autores, d'A Confraria, da natureza da Cerveja, da vida política nacional ou do que quer que vos passe pela cabeça.
Hoje, um leitor tomou a iniciativa, pegou em trinta segundos do seu tempo e expressou uma opinião que mudará com toda a certeza a identidade da cultura nacional (e quiçá deste blog!)


Como podeis constatar, uma pérola.
Comecemos então por tentar desmontar a complexidade óbvia da psique desta tão acutilante personagem, começando talvez pelo anonimato da pessoa (vamos ser simpáticos...) em questão. Uma intenção certamente nobre e uma rejeição de protagonismo louvável. Bravo, pessoa :)

Quanto à mensagem em si, até a nossa rudimentar compreensão com as cabeças cheias de gelado nos permite ver que é brilhante na sua simplicidade. Senão, contemplai a perspicácia com que a pessoa desce a um nível que seja acessível aos autores deste blog, a dignidade com que eufemisa a sua apreciação de valor, onde outros teriam dito "vocês são burros", a sapiência com que enfatiza a sua opinião com um solene "crl", a humildade de um lugar comum sobre a presunção arrogante de um insulto original.
Mas mais importante, o sentido de cidadania desta pessoa. Uma pessoa consciente, uma pessoa preocupada, uma pessoa que intervém, põe o dedo na ferida e diz Não!, Not on my watch! e, como se do próprio Batman se tratasse, vagueia nas trevas, nos ombros o peso de defender uma sociedade cada vez mais sujeita às garras da excentricidade (Cruzes credo, deus nos livre!).

Agora a sério, e como "no good deed goes unpunished", tentemos chamar o Anónimo à razão e convidá-lo, talvez, para beber uma Imperial. Um sítio seguro, onde podemos falar sem tabus e descobrir qual o tipo de psicose que leva alguém a cagar tão insossa posta de pescada e a cair de cu no ridículo por causa de um blog de que - vou dar uma de médium - não gostou.

Senhor, ou senhora, Anónimo/a, antes de mais estamos extremamente gratos por ter estreado o nosso espaço. Seria do nosso enorme agrado convidá-lo/a a beber uma Imperial cá com os confrades ou, caso prefira continuar na comodidade do buraco de frustrações que é, com grande probabilidade, a sua mente, encorajá-lo/a a partilhar o que é que tanto o/a desagradou no nosso espaço ou ideal, via comentário ou formspring que teremos todo o gosto em tornar a publicar.

Atenciosamente,
Miguel de Miguel - Grão-Mestre d'A Confraria da Cerveja

P.S. Aos leitores... vá lá, dêem sinal de vida, digam-nos o que acham do nosso/a querido/a estreante... Ah, e aquilo dos 30 segundos em cima... vocês sabem que eu estava a brincar, ninguém com tamanho atraso mental é capaz de escrever uma coisa com tantas palavras difíceis em menos de 5 minutos :)

P.P.S. Venho unir a minha voz ao protesto perante tão bem-humorada intervenção, digna duma crítica vinda do New York Post, bem estruturada, pertinente e mesmo com um nível literário que deixa antever um enorme potencial por parte desta insigne pessoa. Porém, sinto-me injuriado, dado que considero inadmissível alguém ousar acusar-me de comer gelado com a testa. Toda a gente sabe que essa é uma tarefa anatomicamente impossível, logo o acto de comer gelado com a nossa fronte não é mais do que uma vil calúnia, visto que tal significa que eu desperdiço gelado, atirando-me de cabeça violentamente contra um balde do dito cujo da, digamos, Baskin & Robbins (bem bons por sinal). E eu isso não admito, nem nunca admitirei... pois, vá, comer gelado com as mãos ou com os braços, ou mesmo comer gelado de certas partes do corpo doutras pessoas (nomeadamente do sexo feminino), ainda aceito... Agora com a testa ?! Com a minha testa?! Tenhamos dó, acredito piamente que os nossos leitores podem e vão fazer melhor do que isto... Já que precisam de nos insultar (o que compreendo perfeitamente, pois até eu por vezes tenho vontade de me injuriar), pelos menos façam-no de forma inteligente e compreensível.
Com carinho, João Gramaça

quarta-feira, 4 de agosto de 2010

"Como posso tomar parte em tão ilustre empreitada?"

Decretam-se, num documento oficial a ser posteriormente revisto e integrado na futura Constituição da Confraria, Os Requisitos e O Ritual que devem ser cumpridos para que o aspirante pertença à Confraria

Do requerido a um aspirante a Confrade
São sete os requisitos:
1º Não apenas gostar de cerveja, nutrir sim um amor desmesurado pel’A Cerveja.

2º Respeitar a superioridade hierárquica dos Grão-Mestres e reconhecer a grandiosidade d'A Litrosa

3º O aspirante a confrade deverá ter talento artístico nalguma área, invocando esse mesmo talento como um dos atributos para poder fazer parte d’A Confraria da Cerveja.

4º O aspirante a confrade terá de conseguir referir pelo menos uma excelente razão pela qual deverá ter o privilégio de ingressar na Confraria da Cerveja.

5º Ter a capacidade anatómica de efectuar o cumprimento secreto dos membros da Confraria da Cerveja [a desvendar ao aspirante em ocasião oportuna].

6º Poder ter a honra envergar o traje académico, um dos símbolos máximos da Confraria e a indumentária obrigatória em qualquer cerimónia oficial.

7º Possuir a resistência para consumir 1 (um) litro de Cerveja sem perder ou ver diminuídas as suas capacidade motoras, sensoriais e cognitivas.


Do Soleníssimo Ritual de Iniciação à Confraria da Cerveja
O Ritual de Iniciação tomará lugar no chão sagrado de criação d’A Mui Ilustre Confraria da Cerveja, à Travessa da Espera, no Bairro Alto. O aspirante a confrade deve comparecer às vinte e três horas de uma quinta-feira, sozinho, trajado e com a capa traçada, na posse de duas Litrosas, uma para si, na mão direita e outra na mão esquerda, que deve oferecer aos Grão-Mestres em sinal de respeito e devoção. Estes comparecerão pontualmente, três minutos depois, seguidos dos restantes confrades que, no entanto, não se dirigirão ao aspirante. O aspirante deverá saudá-los com O Cumprimento, a que responderão em sinal de que aceitam iniciá-lo.
O ritual será efectivado na presença d’A Litrosa.
O aspirante deverá beber uma Litrosa de olhos fechados enquanto os Grão-Mestres completam a parte mais secreta do ritual, que terá a duração d’O Fado do Estudante e será finalizada com a ordenação do Confrade. Este deverá agradecer aos Grão-Mestres da forma mais eloquente e estranha que lhe ocorra e homenagear A Litrosa beijando a orla da capa do Grão-Mestre que a esteja a segurar.

A tampa da Litrosa esvaziada pelo confrade iniciado será amolgada pelos Grão-Mestres e deverá ser usada como insígnia pessoal no bolso superior esquerdo da batina, quando trajado.
Os Grão-Mestres oferecer-lhe-ão ainda um emblema que deverá, quando autorizado pela entidade responsável pela seu reconhecimento n’A Praxe, usar na capa.
Após O Ritual, estará conferido ao confrade o grau de Confrade Aprendiz.

Decretado pelos Grão-Mestres, Redigido pelo Escrivão e esperando autenticação via [UPDATE] pelo Presidente da Mesa

[UPDATE]Eu, João Gramaça, Presidente da Mesa, autentico a acta acima redigida pelo excelso Grão Mestre e Escrivão Miguel de Miguel. Tenho dito.

terça-feira, 3 de agosto de 2010

O que é a Confraria da Cerveja?

Pois bem, por fim surgiu um grupo, na lucidez e sobriedade só possíveis nesse templo que é o Bairro Alto, que veio sarar uma ferida aberta na vida académica portuguesa: a inexistência dum grupo que celebra a beleza da Cerveja, jamais esquecendo a erudição e o espírito académico, cuja concretização suprema se observa na união da capa preta com o copo dourado.

O que podemos nós dizer sobre esse líquido divinal que não é já cantado desde os remotos tempos em que os monges desvendaram os mistérios da levedação da cevada? Não muito, é certo, mas podemos sempre acrescentar algo mais.

A Confraria da Cerveja tem por referência máxima a supra-citada Cerveja, e exulta com a riqueza do aroma, com a harmonia da espuma branca a erguer-se na caneca com uma vontade própria, com o canto melodioso de ouro a precipitar-se no fundo do copo, onde tem uma curta espera antes de matar a sede nas gargantas sequiosas dos amantes da Cerveja...

E é para esses elementos nobre e escolhidos da nossa sociedade que se abre esta Confraria, que pretende receber de braços abertos todos aqueles que dão primazia à Cerveja, que fazem do acto de a beber um ritual e uma forma de estar na vida... Que lhe sentem o travo com um prazer gustativo e com um êxtase na alma.

Todavia, como é óbvio, este espaço não é apenas um local dedicado exclusivamente à opinião cervejeira. É também uma forma de abrir os horizontes, de trocar ideias e opiniões, de manter diálogos intelectualmente desafiantes, de discutir a Vida, a Arte, o Sublime. Pois se beber uma Cerveja só por si já é um prazer, fazê-lo na companhia de confrades, num ambiente sem tabus nem limites para a nossa mente, torna-se algo de transcendente.

Este blog acaba por ser a corporização desta nossa ambição de criar algo de único, de diferente... Uma projecção informática, aberta ao mundo inteiro, do idealismo de defender um modo de vida, no qual a Cerveja desempenha um papel fulcral. E nesta projecção pretendemos que se encontrem pessoas diferentes, visões díspares do mundo, talentos escondidos - e tudo isto unido sob a bênção do amor pela Cerveja.


Saudações Cervejeiras

[UPDATE]
Dito como um verdadeiro amante e mestre da cerveja e da literatura, caro confrade.
Leitores, do lado esquerdo encontrareis uma caixa onde podeis perguntar quanto quiserdes.
Saudações Cervejeiras
Miguel de Miguel

1ª Acta d'A Mui Ilustre Confraria da Cerveja

Em seguida se regista pela primeira vez oficialmente e por escrito a 1ª (primeira) Acta da Mui Ilustre Confraria da Cerveja, adaptada da gravação oral original.

(arroto)
Declara-se aberta a sessão. No dia de hoje, aos 24 de Junho de 2010 (vinte e quatro de Junho de dois mil e dez), pelas 21h14m (vinte e uma horas e catorze minutos), sob o céu que nos cobre [salvo seja!], a terra que nos alimenta e a cerveja que nos faz crescer em pensamento, espírito e corpo, diante do "Kamasutra" à Travessa da Espera, situada no Bairro Alto, Lisboa, está oficialmente criada "A Confraria da Cerveja", contando com os primeiros confrades, Miguel de Miguel e João Gramaça, sob testemunho de Joana Franco, das pedras da calçada e da Cerveja [Santa Seja a Cerveja! Amén!]. Para que conste e a quem possa interessar, declara-se incumbido ao confrade Miguel de Miguel o cargo de Escrivão e ao confrade João Gramaça o de Presidente da Mesa e Tesoureiro, bem como o grau de Grão-Mestre ad eternum a ambos os confrades. Declara-se ainda Joana Franco como primeira afiliada d'A Confraria. Consumou-se a criação da última e a tomada de posse dos intervinientes nesta acta com o acto simbólico de beber d'A Litrosa, que desde já se apresenta como o símbolo máximo d'A Confraria da Cerveja e que, pela sua importância, requer a redacção imediata de um Decreto a ser posteriormente revisto e integrado n'A Constituição da Confraria.

É decretado que:

Art. 1 - A Litrosa é o símbolo máximo d'A Confraria da Cerveja, por conseguinte única e insubtituível, devendo ser tratada com a maior deferência.

Art. 2 - A Litrosa deve estar sempre na posse de um Grão-Mestre d'A Confraria ou, na sua impossibilidade, de um confrade a quem outorgue esse privilégio. Por posse, define-se a situação em que A Litrosa se encontre em localização segura, em propriedade do Grão-Mestre ou do confrade a quem seja outorgada.

Art. 3 - A Litrosa não deve ser tocada senão por um Grão-Mestre ou por um confrade a quem este conceda tal privilégio, sob pena de expulsão d'A Confraria e/ou impedimento de ser confrade. O toque d'A Litrosa, em situação legítima, é uma das mais altas honras concedidas dentro d'A Confraria.

Art. 4 - A Litrosa nunca será aberta ou por qualquer meio violada senão por ocasião do Casamento, Tomada de Posse [n'A Confraria], Divórcio, desejo de um Grão-Mestre no seu leito de Morte ou Funeral de qualquer confrade, altura em que deve ser aberta à luz de velas e enchida até 3 (três) centímetros do gargalo com Cerveja de qualquer espécie e bebida até ao fim pelos confrades intervinientes na cerimónia, após o que deve ser novamente encerrada. Qualquer excepção às situações contempladas deverá, caso se justifique, ser discutida pelos Grão-Mestres da confraria.

Esta acta foi lavrada por mim, escrivão d'A Confraria e será posteriormente autenticada via [UPDATE] neste blog pelo confrade Presidente da Mesa João Gramaça.

Funchal, três de Agosto de dois mil e dez

Grão Mestre e Escrivão: Miguel de Miguel

[UPDATE]Eu, João Gramaça, autentico a acta acima redigida pelo excelso Grão Mestre e Escrivão Miguel de Miguel. Tenho dito.