sábado, 9 de outubro de 2010

A noite minha é dos candeeiros.
A perna cruzada e os braços abertos,
Afundo-me no sofá de cá de fora.
Fora é um vaso grego e jazz nos acordes certos
E ver o negro Tejo de cá de cima.
Uma noite sedutora que devora,
Por bem menos dos trinta dinheiros,
Este homem, no logro de uma rima.
De embutido na ternura do seu ventre,
Entrego-me à dúvida da própria existência.

Se é possível existir sem consciência,
Seja só na trova.
Sem mais prova que me corrobore,
Sem que chore Lisboa a saudade de mim
E, na noite, se encontre outra pista,
Sou a voz de uma fadista apiedando-se,
Dando-se à morte em cada verso,
Em cada verso, ao esquecimento,
Em cada verso de lamento
Ao sono de um mendigo.
Fecho os olhos e abro um sorriso parvo
E deito-me com ele no passeio.