terça-feira, 6 de setembro de 2011

O dia de hoje rasga a carne.
O dia de hoje é mal dito e mal parido.
Hoje é um dia de sol quente e assadura na virilha.

Esta noite é de cores invertidas,
É de subvertidas reacções.
A noite que se vive é de medo e alucinações.

Porta fora, já se explora a vergonha da noite menina. Já se vai cansado de mijos e bafos, se não se morre é porque o afogueamento não compra sequer o suspiro da partida, já se vai preso ao cenário, já se mexe os braços da maneira que esperam os ébrios mexilhões claclaquejantes dos meios das ruas, já se mete nojo a si próprio e nada mais há a fazer que não aceitar o radiopassivo decaimento das pedras ao som de estática sem propósito.

É assim que se anda pelas ruas deste sítio morto, sem companhia, sem alma e sem música.
É assim que os olhos engasgam um vulto ao virar da esquina e o medo adivinha toques e gritos de todas as direcções, sobressaltos e sangue gelado a cada segundo, de trás, de cima e de baixo, dos lados, um e outro, e da frente. Até de dentro, quando o absinto arranha a garganta com unhas e barba rija que vem de dentro para fora, sufoca o vómito e deita ao chão, de barriga para baixo, pila no meio das pedras, cumprindo a primordial função de cuspir a peçonhenta semente e violar a noite, que guincha sem dó e roda sem acorde nenhum ao fundo deste psicadélico dossel, cada vez mais rápido, berrando o meu apelido, sorvendo o meu suor e cuspindo na minha boca.

Passam os travestis. Passam os drogados. Passam os mosquitos. Passa o mau cheiro. Passa a foda. E o tempo passa, comigo deitado no chão, já sou eu há algum tempo. A morte já chegou, mais o seu cheiro, há algum tempo, e já passou, também, e o cheiro arranjou casa nas paredes descarnadas e fui enterrado bem longe de mim.
Não chove neste deserto onde estou, não há cura para esta lepra, não há droga para este pensamento. Estou no mundo e na posse da agonia, e ela pôs-me sóbrio só para me poder quebrar o espírito.
Estou possuído pelo filho mais feio do demónio.

Saudações cervejeiras!
Miguel de Miguel, escrivão e grão-mestre d'A Confraria da Cerveja

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