sexta-feira, 5 de agosto de 2011

a heresia é um posto

"Enganas-te."
Num sonho, foi o que me disse deus, só isto e mais nada, sem ai nem ui nem inteligentes ditos, nem mais que a leve ironia dos verbos quando se reflectem, todos em geral e este em particular, em particular me apontou o divino dígito e logo a seguir voltou costas e saiu peremptoriamente. Omnipotências à parte, entrou-me como uma agulha pela têmpora direita, saiu pela esquerda como uma dor fininha e o resultado da ideópsia, esse veio taxativo e com azedume e sem mais quês nem porquês, findo, exacto e inútil.
"Engano-me em quê?", não é?
Mas deus não fala de lógica, nem com lógica, nem com lógicos, aliás, criou o próprio conceito como criou o demónio, por descargo de consciência, e está claro que o homem, como ao demónio, agarrou-se à lógica como a um bote de salvação, apetrechou-a e pintou-a toda de cinzento metálico e outras cores sóbrias, deu-lhe o ar mais eficiente que conseguiu e, ao sétimo dia, admirou a sua obra e viu que ela era boa. A lógica e o bote, meus senhores e minhas senhoras, salvaram-nos do dilúvio, pensámos até que da ignorância, mas os botes não voam e vozes de burro não chegam ao céu, e deus tem o privilégio de lá morar.
Com tanto cá chegámos, depois de uma acusação e uma meia pergunta à boca pequena, aqui estamos à soleira da porta. Se o próximo passo leva à igreja ou ao asilo, decidirão as minhas senhoras e os meus senhores. Falou-me deus ou não, se falou existe, se não, sou louco, e é o que posso espremer desta mirabolice. Se eu fosse um homem honesto, adiantava que o conteúdo da mensagem transporta a evidência divina da divina inexistência. Mas longe de mim dizer para fora o que já em pensamento é pecaminoso.
Boa noite.

Saudações cervejeiras e um duradouro (dura e de ouro, livre-nos A Litrosa de cerveja mole e de outras cores) regresso!

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